
E quando o paciente resiste à reestruturação cognitiva?
- Clinica Villas Psi

- 22 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 30 de mai.

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é reconhecida mundialmente por sua eficácia em promover mudanças significativas no pensamento, nas emoções e nos comportamentos. Uma de suas técnicas centrais — a reestruturação cognitiva — visa ajudar o paciente a identificar pensamentos automáticos distorcidos e substituí-los por interpretações mais funcionais e adaptativas. Mas, e quando o paciente resiste a esse processo?
Essa resistência não é rara. Ela pode surgir de diversas formas: negação das distorções, apego a crenças negativas, medo de mudança ou mesmo dificuldade de confiar em novas formas de pensar. É natural que o paciente questione: “E se esse pensamento for verdadeiro?” ou “Isso parece forçado demais”. Essas falas revelam não apenas uma resistência à técnica, mas também uma tentativa legítima de proteger-se da dor emocional.
Aaron Beck, fundador da TCC, já destacava que “as crenças centrais, por estarem profundamente arraigadas, tendem a resistir à mudança, mesmo diante de evidências contrárias” (Beck, 1997). Isso nos lembra que a mudança cognitiva exige tempo, sensibilidade e, sobretudo, respeito ao ritmo do paciente.
Quando a reestruturação encontra barreiras, é papel do terapeuta ampliar sua escuta e adaptar sua abordagem. A TCC não se limita a identificar distorções e corrigi-las. Ela também envolve:
Psicoeducação sobre emoções e pensamentos;
Técnicas comportamentais (exposição, ativação, enfrentamento gradual);
Treinamento de habilidades sociais;
Encorajamento à auto-observação sem julgamento;
Fortalecimento da aliança terapêutica.
Mais do que um conjunto de técnicas, a TCC é uma prática clínica centrada na pessoa, que reconhece a complexidade humana. A resistência, nesse sentido, não é um erro a ser consertado, mas uma experiência a ser compreendida.
Quando o paciente resiste à reestruturação cognitiva, talvez ele esteja sinalizando que ainda não se sente seguro para abandonar seus modos de funcionamento — por mais disfuncionais que sejam. Nesses momentos, mais importante do que desafiar o pensamento é acolher o sofrimento que ele carrega.
A TCC é, sim, estruturada. Mas ela também é compassiva. Ela oferece diretrizes baseadas em evidências, mas se mantém aberta à singularidade de cada história. Porque, como bem lembra Beck, “a essência da terapia é ajudar o paciente a reconhecer o impacto de seus pensamentos sobre suas emoções e comportamentos, e oferecer novas possibilidades de ação” (Beck, 1997).
Referência bibliográfica:
BECK, Aaron T. Terapia cognitiva: Teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 1997.
JUDITH S. BECK. Terapia Cognitivo-Comportamental: Teoria e Prática. Artmed, 2013.
Ana Paula A. Paim
Psicóloga e Neuropsicóloga Clínica - CRP 03/12380
Especialista em Avaliação Psicológica
Diretora e Responsável Técnica da Clínica Villas Psi
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