
Mães atípicas: quem são e quais os seus principais desafios?
- Clinica Villas Psi
- 23 de mai.
- 3 min de leitura
Atualizado: 30 de mai.

A maternidade, muitas vezes, é envolta em uma aura de romantização. Ela costuma ser idealizada pela sociedade como uma experiência repleta de amor incondicional e entrega total. Espera-se da mãe uma dedicação que beira o sacrifício. Mas o que acontece quando essa maternidade foge do que a sociedade considera “normal”? É aí que entram as mães atípicas.
O que são mães atípicas?
Mães atípicas podem ser aquelas que cuidam de filhos com deficiências, doenças raras ou transtornos do neurodesenvolvimento, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou mulheres com deficiência que exercem a maternidade.
Essas mulheres vivenciam uma dupla ou até tripla jornada: cuidam intensamente de seus filhos e, no caso de mulheres com deficiência, ao mesmo tempo, enfrentam barreiras impostas por uma sociedade capacitista, que dificulta o exercício da maternidade. Essas são mulheres que, muitas vezes, enfrentam desafios ampliados, com rotinas intensas de cuidado, terapias, consultas e, frequentemente, pouco ou nenhum apoio.
Essa vivência, marcada por um amor profundo, também carrega cansaço, renúncia e sofrimento. Não é incomum que essas mulheres deixem suas carreiras, suas redes de amizade e até suas identidades pessoais em segundo plano para se dedicarem integralmente aos filhos.
Os principais desafios enfrentados pelas mães atípicas
Sobrecarga emocional e física: A constante demanda por atenção, cuidado e vigilância pode levar ao esgotamento. Muitas vezes, essas mães dedicam-se quase exclusivamente ao cuidado dos filhos, deixando de lado suas próprias necessidades.
Isolamento social: Muitas relatam sentir-se sozinhas, sem espaço para falar sobre suas dores ou buscar acolhimento. A rotina intensa e a falta de compreensão social sobre suas vivências podem levar ao afastamento de amigos, família e da comunidade.
Estigma e julgamento: Ainda existe muito preconceito, tanto em relação às condições dos filhos quanto à forma como essas mães exercem a maternidade. Muitas vezes, essas mulheres são alvo de olhares, comentários e atitudes que colocam em dúvida sua competência, seu cuidado e até seu amor pelos filhos — especialmente quando esses filhos não se comportam de forma considerada "convencional" em espaços públicos, como escolas, transportes ou eventos sociais. Para as mães com deficiência, o estigma é ainda maior e se manifesta em crenças como a de que mulheres com deficiência não podem ou não deveriam ter filhos, ou de que seus filhos necessariamente nascerão com deficiência. Esses preconceitos são reforçados por uma visão capacitista da deficiência, que associa a limitação física ou sensorial à incapacidade total de exercer o cuidado. Muitas dessas mães precisam provar constantemente sua competência como cuidadoras, enfrentando olhares desconfiados e julgamentos velados.
Falta de políticas públicas eficazes: Serviços de saúde, educação e assistência social ainda não dão conta das demandas dessas famílias. Ainda há uma escassez de recursos, acolhimento e serviços especializados para essas mães e seus filhos. Para mães com deficiência, as barreiras físicas e comunicacionais tornam o acesso a esses serviços ainda mais complexos.
Desigualdade de gênero: Mesmo quando há companheiros, a maior parte da carga mental e dos cuidados recai sobre a mãe. Quando a mãe é também uma pessoa com deficiência, essa igualdade se intensifica, pois a sociedade muitas vezes negligencia suas necessidades específicas de suporte.
A maternidade atípica convida a sociedade a repensar seus ideais sobre o que é ser mãe. Ela nos lembra que não existe uma única forma de maternar e que o cuidado não deve ser responsabilidade exclusiva de uma mulher. Cada mãe atípica carrega uma história única, feita de lutas silenciosas e amor cotidiano. Para as que também possuem alguma deficiência, essas lutas são ainda mais invisibilizadas e desafiadoras.
Que possamos escutar essas vozes, acolher suas vivências e construir redes de apoio verdadeiras — nas famílias, nas escolas, nos serviços de saúde e nas políticas públicas. Cuidar de quem cuida é um ato de justiça e empatia.
Referência:
TAMBARA, Marli Palomares; SANTOS, Viviane dos; RICOLDI, Arlene Martinez. As maternidades atípicas e solos: os desafios de quem cuida. Universidade Federal do ABC, São Bernardo do Campo, SP, Brasil, 2023.
CORRÊA, Vanessa da Costa Rosa; JURDI, Andrea Perosa Saigh; SILVA, Carla Cilene Baptista da. Mães com deficiência, cotidiano e escola: relato de pesquisa. Revista Brasileira de Educação Especial, Corumbá, v. 28, e0159, p. 335-348, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1980-54702022v28e0159.
Ana Paula A. Paim
Psicóloga e Neuropsicóloga Clínica - CRP 03/12380
Especialista em Avaliação Psicológica
Diretora e Responsável Técnica da Clínica Villas Psi
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